Como acabar com as esperanças e os sonhos do bravo povo brasileiro
Por Paulo César Regis de Souza (*) Em diversos artigos que escrevi, abordei o tema da reforma previdenciária, que se faz necessá...
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Por
Paulo César Regis de Souza (*)
Em diversos artigos que
escrevi, abordei o tema da reforma previdenciária, que se faz necessária ao
nosso país.
Confesso que o clima de
anomia (ausência de poder político) contaminou as discussões sobre o tema. Os
governos da presidente afastada, Dilma, e do presidente interino, Temer,
carecem de uma proposta que não se restrinja aos benefícios que tenha respaldo dos
contribuintes, segurados e beneficiários da Previdência. Impor uma reforma à
ordem dos fiscalistas de plantão é uma temeridade.
Pelo que percebo os autoritários
fiscalistas não aceitam qualquer reforma no financiamento. Querem continuar
usando e abusando dos recursos da Seguridade Social, da Previdencia inclusive, para
fazer ajustes econômico-financeiros que agradem ao governo do turno, ao
superávit primário (ainda que distante) e ao mercado.
O enfoque prevalente se
volta para o futuro daqui a 30 anos, que tem sua relevância face o fator
previdenciário e seu substituto capenga, a fórmula 85/95, a necessidade de
fixação de idade mínima para o Regime Geral de Previdencia Social-RGPS (os RPPS
já tem) e a inevitável bolha demográfica, que atordoa as previdências de todo o
mundo. 
Mas não há por parte dos
fiscalistas, que lideram e impõem suas ideias monocráticas, olhando a Previdência
como instrumento de política fiscal (o que é uma temeridade, enfatizo) e pela
relação despesa/PIB, que é elevada, enquanto silenciam se omitem e
desconsideram que deva se fazer a reforma do financiamento. 
É enfadonho ouvirmos
diariamente nas televisões e lermos em jornais e revistas “especialistas e
analistas amestrados” dizendo que o país só sai da crise se fizer uma reforma
da Previdência.
Este é um dos problemas.
Tratá-la como solução todos os males estruturais, de inflação, crescimento,
inclusão social, educação, saúde, desemprego, segurança, habitação, transportes,
etc. são pressupostos simplistas, dolorosos e inaceitáveis. Que vai nos levar
ao nirvana é um sonho e uma fantasia.
Esta gente perde a noção do
mundo e nos reduz como nação a tribo em que apenas os caciques falam e impõem
suas ideias.
Em todos os países, a Previdência
tem dois componentes básicos e fundamentais: receita e despesa. Desde Bismark,
fundador da moderna Previdência Social, todo benefício tem que ter obrigatoriamente
financiamento para que a Previdencia seja sustentável ao longo do tempo. Quando
se fala em “pacto de gerações” isto significa que os contribuintes de hoje
financiam os trabalhadores de ontem. 
Este fundamento foi
esquecido e desrespeitado no Brasil, especialmente quando se criou o Funrural,
e a partir dele, novos “funrurais” (supersimples, micro produtor individual,
empregado doméstico, segurados especiais, dona de casa rural). Isto porque a
contribuição previdenciária foi reduzida, tornando-se insuficiente para custear
os benefícios outorgados. 
Além disso, os sucessivos
governos, assistencialistas, e populistas, foram generosos quando concederam as
renúncias das contribuições patronais para instituições filantrópicas e até
exportadores rurais e quando impuseram a desoneração contributiva substituindo
os 22% da folha por uma alíquota insuficiente sobre o faturamento. As renúncias
e as desonerações custaram cerca de R$ 200 bilhões à Previdência, nos últimos
sete anos, gravando o déficit.
O nosso sistema é de
repartição simples, não é de capitalização. Quando havia superávit e houve muito,
de 1940 a 1994, a Previdência financiou o desenvolvimento do país. Os saques consumiram
mais de R$ 1 trilhão de reais, nunca foram pagos e estão na dívida histórica e
na base do déficit. O sistema foi utilizado para outras finalidades, confessáveis
e inconfessáveis, além do que diminuiu a relação entre o nº de contribuintes e
o nº de beneficiários, o que é alto risco para a sustentabilidade de sistemas previdenciários.
Tenho consciência que está
muito difícil sensibilizar deputados e senadores, neste momento, em que a
Previdência tornou-se execrável para o governo interino que foi ao delírio
“extremis” de acabar com o Ministério, se apropriar de seus R$ 2,4 trilhões,
para fazer política fiscal, inclusive 30% deles através da DRU, e reduzir o
INSS, com 60 milhões de contribuintes,  28
milhões de aposentados e pensionistas, 33 mil servidores, a uma repartição secundária
do ex-Ministério da Fome, como algo vil e desprezível.
Tenho porem certeza de que
se não mexer no financiamento não haverá reforma, só um arremedo. Como tenho
certeza de que se não mexer na Previdência da União, dos Estados e Municípios,
não haverá reforma. Neste caso, nem arremedo. 
Esta gente brinca com a
dignidade, a esperança e os sonhos dos brasileiros. Ainda bem que o governo é
interino e passageiro, como passam os rios e as correntezas.
Somos os que restaram de
várias gerações que deram suas vidas para que o Brasil tivesse uma Previdência
respeitável, apesar dos saques e golpes desferidos contra ela, que resistiu aos
Colors, aos Lulas, às Dilmas e está tombando nas mãos do Sr.Temer, por alguma
razão que gostaríamos de saber. Francamente, o que ele está fazendo conosco é
uma estupidez!
Paulo César Régis de Souza – vice-presidente Executivo da
Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social -
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