Empregadas e patroas do RN discutem aplicação de PEC
Maria Antônia Silva trabalha de segunda a sábado na casa da família Fonseca faz um ano. Ela serve o café da manhã, o almoço e encerra o di...
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Maria Antônia Silva trabalha de segunda a sábado na casa da família
Fonseca faz um ano. Ela serve o café da manhã, o almoço e encerra o dia
de trabalho após o jantar, em uma jornada de aproximadamente 9 horas por
dia. Independente de trabalhar 8 ou 9 horas diárias, a atual legislação
determina que ao final do mês ela receba a mesma coisa: um salário
mínimo - R$ 678.
Um dos pontos da proposta de emenda à Constituição conhecida como PEC
das Domésticas, que amplia direitos da categoria e foi aprovada nesta
terça-feira (26) no Senado Federal, é a jornada de trabalho: se
ultrapassar as 44 semanais, o patrão deve pagar a hora extra, no máximo
duas por dia.
Maria Antônia gostou de saber que patroa deverá
pagar hora extra (Foto: Caroline Holder/G1)
pagar hora extra (Foto: Caroline Holder/G1)
“Este é o ponto que eu acho mais importante nesse assunto porque eu
sempre passo uma hora a mais, às vezes até duas, e é justo que eu receba
por isso. Mas não entendi muito bem esse assunto, não sei todos os
pontos. Minhas amigas disseram que ainda não está nada certo. Vi por
alto na televisão, mas não sei muito bem”, disse Maria Antônia.
Rosa Fonseca, patroa de Maria Antônia, concorda em parte com a PEC das
Domésticas. "Acho justo que elas recebam pelas horas trabalhadas a mais.
Porém, isso é difícil de calcular, já que não há ponto. E também muitas
vezes não é um trabalho contínuo. Como vou calcular essas pausas?",
indagou. E continuou: "Todos os direitos são importantes, mas nem todo
mundo vai conseguir manter uma empregada porque os custos vão aumentar
bastante", enfatizou.
Rosa se referiu aos auxílios que a emenda constitucional determina,
como o salário família e auxílio creche. Além de indenização, seguros e
adicional noturno. "Este pacote vai sair caro, mas teremos que nos
organizar para pagar. O problema é que muita gente não vai ter condição
financeira de arcar com isso, então, muitas empregadas serão demitidas",
frisou Rosa.
Maria Antônia teme que as mudanças gerem muita
confusão entre patroas e empregadas
(Foto: Caroline Holder/G1)
confusão entre patroas e empregadas
(Foto: Caroline Holder/G1)
Maria Antônia concorda com a patroa. "Acho que isso vai gerar muita
confusão e desemprego. Primeiro, como vai ser o controle dos horários?
Segundo, se pagar a hora extra e os auxílios vai ficar muito caro para o
patrão. Se ele tiver condições, bem, e se não tiver, é rua. Ou então,
vai voltar tudo para a informalidade", lamentou a doméstica.
Na casa de Dulce Avelino, a empregada doméstica comemorou a
possibilidade de ter mais direitos. "Na outra casa que eu trabalhei eu
foi despedida, sem justa causa, e fiquei de mãos abanando, porque não
tinha direito a seguro desemprego. Agora é diferente, caso isso
aconteça, e a lei sair aí do papel, vou ter direito ao seguro. Eu achei
isso foi bom. Muito bom", disse Kátia da Silva.
Dulce acredita que será difícil manter empregados
em casa (Foto: Caroline Holder/G1)
em casa (Foto: Caroline Holder/G1)
Já a patroa, teme que fique difícil manter a empregada. "Os auxílios
vão aumentar muito os custos. Quando a gente coloca no papel a despesa
aumenta bastante. Acho que elas devem ter os direitos, mas tenho medo
que a gente não consiga mantê-las nas nossas casas. Acredito que muita
gente recorra para as diaristas, cerca de duas vezes por semana",
afirmou Dulce.
Luciana e Wendell Medeiros têm três empregados e disseram que ainda não
tiveram coragem de analisar todos os pontos da PEC. “Ainda não tivemos
coragem de parar e verificar as mudanças. Eu li que a mudança vai
aumentar em cerca de 40% os custos. É um peso enorme no orçamento, estou
com medo de fazer as contas, mas já estamos pensando em despedir um dos
empregados, infelizmente”, comentou Wendell Medeiros.
“Acho que isso pode gerar demissões e muita gente pode apelar para a
informalidade. Também acho difícil o controle da hora extra, como será
isso? Já que os órgãos fiscalizadores não podem entrar na nossa casa e
ver isso. Acho que vai prevalecer o bom senso”, completou Luciana
Medeiros.
O casal também tem dúvidas quanto ao adicional noturno. “Elas dormem
aqui mas não trabalham à noite. Como isso será analisado. Só o bom senso
vai poder tornar a aplicação das normas viável. Vamos esperar e torcer
para que ainda seja possível manter os trabalhadores domésticos nas
nossas casas”, finalizou Wendell.
G1 RN